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DE AMANHÃ PARA ONTEM
EXPOSIÇÃO COLETIVA ABRE CAMINHOS [CCSP] - 2021
​São Paulo

De Amanhã para Ontem é uma proposta poética que enaltece a existência dos ancestrais, inspirada nos festivais dos Egunguns[1], comum no Togo e no Benin, essa celebração que acontece durante um período específico, se repete cada ano para demonstrar respeito aos que vieram antes.

Para além da experiência visual e sonora que acontece nos dias do festival e que dura longas horas com muita dança, durante todo evento existe uma  interação com os Egunguns, que são materializados e manifestados através de dispositivos, que são invólucros feitos de diversos materiais e que simbolizam naquele momento o corpo do ancestral invocado. 

A tradição de culto aos ancestrais me toma o pensamento sobre a reflexão do tempo-espaço.

Como disse Albert Einstein numa carta de 1955: “A distinção entre passado, presente e futuro é só uma ilusão, ainda que persistente”.

Para Einstein as escolhas que ainda vamos fazer já estão impressas no tecido da realidade. Seguindo mesmo raciocínio podemos levar em consideração que as camadas de passado, presente e futuro estão alinhadas e sobrepostas.

Me parece que as filosofias de matriz africana entendem muito bem a teoria da relatividade de Einstein e há tempos imemoráveis praticam conexões que quebram a barreira do entendimento cartesiano de temporalidade.

Pensando nisto, percebo que, o orixá que mais compreende essa noção de tempo expandido onde podemos viajar entre futuro e passado é o orixá Exu.

Abaixo compartilho o texto que encontrei sobre Exu.

O que é Exu ?

Exu, aquele que matou um pássaro ontem, com a pedra que jogou hoje.

Exu, aquele que está em cima mais também está em baixo, que está na esquerda mais está também na direita, é aquele que faz que cai e antes de tocar no chão já está em pé. É o vôo de um passarinho quando sai de uma gaiola, sentindo o ar livre e também o bote de uma cobra, quando se encolhe e em um golpe certeiro derruba seu inimigo, é uma esfera, gira e nunca para. Olho para todos os cantos e vejo Exu, olho para todas as direções e também vejo Exu. É aquele que sabe o caminho correto, sabe qual caminho você vai pegar mais não lhe fala, se você erra o caminho, ele espera você enxergar seu erro para lhe colocar no caminho certo. É charada que não se resolve, é bomba que não se explode, é como uma mata fechada, você pode se perder e simplesmente sumir, ou pode achar vida nela e conhecê-la por completo. É como uma balança mágica que sabe o equilíbrio da vida.

Sabe muito bem onde pisa, não pisa em espinhos, anda sobre brasas e nunca está sozinho. Não está do lado do bem, nem do mal e sim do lado da justiça, não fala alto e nem baixo, fala em um tom suficiente para todos escutarem. Não carrega escudo e nem espada, sua poderosa arma é sua lábia, pois ele se comunica com quem quer, entra aonde quer, fala o que quiser e consegue parar ou começar qualquer briga, pois não há ninguém com a lábia igual a sua. Coitado daquele que fala mal de Exu, pois mal sabe que Exu está nas próprias palavras. Onde tem orixá tem Exu, onde tem Exu tem orixá, agradeça por existir Exu, pois sem Exu o mundo não roda...

Laroyê

By Hector Ferrari.

 

Fechando esse raciocínio a instalação proposta e intitulada De Amanhã para Ontem discute a temporalidade e a teoria da relatividade porém com a ótica milenar dos cultos africanos ao ancestrais, que em cada festival abrem um canal de comunicação entre futuro e passado. Assim o passado recebe uma interação do futuro e o presente recebe uma interação do passado. Desenhando um grande círculo geracional e quântico que se retro alimenta perpetuando uma tradição de troca.

[1]Egunguns_do iorubá egungun é um termo das 

religiões de matriz africana que designa os espíritos

de pessoas mortas importantes, que retornam à terra. 

O termo faz parte da mitologia iorubá.

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